O que é felicidade? Só muito recentemente a psicologia começou a investigar em que se baseia essa sensação. Do ponto de vista neurológico, não tenho conhecimento de nenhuma abordagem para avaliar esse estado interno.
Pra mim, a felicidade é um processo, uma trajetória que inclui alegrias e tristezas, mas que mantém no balanço um saldo de satisfação pessoal.
Agora, como atingir a satisfação pessoal?
Alguns dirão: fama, poder e riqueza. Exatamento o que os chineses antigos chamavam de "os três venenos do homem".
Outros procuram a relização nas coisas prosaicas, como a família, a profissão, o conhecimento etc. Também algo positivo, mas de certo modo circunscrito.
Na minha opinião, o nível mais alto de realização e o que proporciona a maior felicidade(por não se preocupar com ela) é a dedicação ao bem-estar dos outros.
Agir compassivamente para trazer paz aos outros é o nível mais alto de realização que alguém pode ter.
Certamente, os aparelhos neurológicos não conseguem ainda detectar isso. Vamos precisar de uma tomografia que registre a luz espiritual para isso. Quem sabe um dia... :-)
Dedicado a traduzir os conhecimentos da neurologia para o público leigo, bem como discutir os avanços científicos na área do comportamento e da cognição. De contrapeso, apresenta um olhar sobre os aspectos espirituais da doença e do adoecimento.
terça-feira, 20 de abril de 2010
É possível se pensar em uma "tradução neurológica" de felicidade? Não me refiro ao arrebatamento do êxtase, mas ao sentimento de felicidade.
minha filha tem 19 anos e a acho com a mente muito infantil, parece que cada ano que passa a mente dela vai regredindo. ela já terminou o segundo grau, e sempre se saiu bem nos estudos, não tem amigos . gostaria de saber a que médico devo recorrer?
Olá! Uma avaliação multiprofissional, com neurologista, psicólogo(a), psicopedagoga(o) e, eventualmente, neuropsicóloga(o).
Muitas coisas podem ser causa. Déficit de atenção e hiperatividade é uma das mais comuns causas de diferença entre a idade cronológica e a mental.
Abs!
terça-feira, 9 de março de 2010
Hoje se sabe de todas funções das glândulas no cérebro? Existe alguma variação de suas funções nos seres humanos e nos animais?
Como não é possível controlar o estado de excitação de todo o sistema nervoso simultaneamente, temos que estudar sua atividade de modo compartimentalizado: função por função.
Mas na vida, a abordagem que temos de nós mesmos deve ser integrada e, desejavelmente, totalizadora.
Podemos dizer que nós vivemos em múltiplas dimensões se pensarmos que existe, por exemplo, um nível macroscópico de existência psicossocial e vários níveis microscópicos de existência, constituídos por nossos estados internos biológicos, moleculares, neurais etc.
De qualquer maneira, somos um todo vivo que age sobre e, ao mesmo tempo, reflete o meio ambiente interno e externo.
Como é possível que um pensamento - considerado apenas como uma reação química - pode ser capaz de gerar a sensação de "eu"? Ou melhor: como a neurofisiologia explica a "autoconsciência" (aquele que sabe que é um eu que sabe)?
A ciência tem progredido muito no campo da neurologia cognitiva e comportamental. Cada vez mais conseguimos localizar circuitos e sistemas neurais relacionados a processos mentais antes estudados apenas pela filosofia ou pela religião. Neurologistas como Antonio Damásio escreveram livros a respeito e pesquisadores como Tristan Bekinschtein têm acrescentado muito ao nosso conhecimento. A idéia de uma "mente incorporada" no cérebro amplia nossos horizontes científicos sem a dureza de posições totalmente reducionistas.
Questões sobre o cérebro, a mente ou a alma? Pergunte aqui e vamos conversar!
segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010
Efeitos do tabaco e da maconha no cérebro
A maconha (Cannabis sativa) tem como principal princípio ativo o Tetra-Hidrocanabinol - o THC. Existem receptores nos neurônios espalhados pelo sistema nervoso central, específicos para esse composto e para os demais endocanabinóides. Os receptores tipo CB1 promovem a liberação de GABA(acido gama-aminobutírico) nas áreas da memória como hipocampo, amigdala e córtex cerebral. O resultado é uma lentificação do pensamento e comprometimento da memória. Crianças expostas à droga ainda no útero da mãe têm menor desenvolvimento intelectual em termos de atenção, linguagem e aprendizado.
A "química" da maconha permanece por semanas no corpo, mesmo depois da interrupção do uso.
Já o tabaco tende a agir mais lentamente, por via indireta. Como é responsável por doenças nos vasos sanguíneos de pequeno calibre, seu consumo por décadas pode comprometer a irrigação cerebral, causando microinfartos ou predispondo a grandes acidentes vasculares cerebrais.
domingo, 14 de fevereiro de 2010
A transcendência e o si-mesmo. Pergunta dos leitores
Ultrapassar a si mesmo, por outro lado, significa derrubar as fronteiras do próprio ser para habitar o domínio do não-eu, exatamente onde encontramos "o outro". Significa ampliar a própria consciência, repensando o papel central que tínhamos atribuído ao nosso ego até aquele momento.
Quem quer transcender a si mesmo, deve libertar-se de si para se reunir com os outros em irmandade, compaixão e amor.
Teorias de Personalidade e Freud -- pergunta dos leitores
No final, eu gosto de Freud, Vygotsky, Jung, Skinner e outros, pois vejo que cada um contribui significativamente para a compreensão do nosso modo de ser e de agir.
obrigado pela pergunta!
sábado, 13 de fevereiro de 2010
Transtorno bipolar: o desafio diagnóstico. Pergunta dos leitores
O importante é que são mudanças severas no tom emocional da pessoa, diferentes das variações de humor que normalmente temos. Nos períodos de depressão o paciente fica realmente deprimido, afastando-se do convívio social e até comprometendo seu lado profissional. Já nos momentos de mania ou hipomania é capaz de fazer coisas despropositais como comprar 50 pares de sapatos para o filho de 1 ano de idade, vender as propriedades da família imaginando fazer um ótimo negócio ou manifestar compulsões sexuais insaciáveis.
Os comportamentos gerados nesses períodos dão indícios da gravidade do humor envolvido e da necessidade de procurar um especialista. Existem medicações apropriadas para o controle dessa condição médica.
Mas nem sempre é fácil o paciente perceber que há algo errado, ainda mais se for adolescente. Por isso, o olhar atento da família e a abertura para conversar são fundamentais.
sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010
Perda de memória - pergunta do leitor
Para saber mais, veja o texto no meu blog sobre "Burnout" em http://estadoneurologico.blogspot.com/2009/07/sindrome-de-burnout-nova-face-do.html
Déficit de Atenção e Hiperatividade - pergunta do(a) leitor(a)
Como é uma doença "da moda" temos que ficar atentos com o excesso de diagnósticos, seja pelos pacientes e familiares ou pelos médicos. Embora saibamos que há uma diminuição na atividade das projeções dopaminérgicas para os lobos frontais cerebrais, ainda há muito o que descobrir sobre a doença. No momento, temos facilidade em detectar os casos extremos, mas o limite entre o normal e o patológico está longe de ser bem compreendido.
As medicações usadas podem causar dependência química e psíquica, por isso devem ser prescrita de modo criterioso. Já a falta de tratamento pode diminuir as chances da criança concluir os estudos e até estar mais predisposta a drogadição.
Amnésia e Lapsos de Memória - pergunta do(a) leitor(a)
Obrigada por colocar seus saberes à disposição. Uma pergunta sempre me intriga: as amnésias temporárias, os lapsos da memória recente e a predominância de lembranças muito remotas e até mesmo desconhecidas são neurológicos?
Atualmente consideramos a existência de vários tipo de memória, tais como a procedimental, a memória de fixação, a memória de evocação e a memória tardia.
Há muitas doenças que comprometem predominantemente um ou outro tipo de memória.
No Alzheimer existe o que chamamos de um comprometimento escalonado da memória. Isso quer dizer que a pessoa doente vai perdendo as memórias mais recentes e, progressivamente as mais antigas, até as bem remotas.
Os problemas de memória precisam ser avaliados por neurologista com prática nessa área cognitiva.
Questões sobre o cérebro, a mente ou a alma? Vamos conversar!
quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010
A Mente e o Cérebro - pergunta do(a) leitor(a)
Roger, uma pergunta tem me intrigado: as reações do cérebro (químicas, elétricas etc) são CAUSAS dos pensamentos ou, ao contrário, são MANIFESTAÇÕES DECORRENTES do pensamento?A ciência neurológica pode ajudar nisso? Thomé/CTBA
Do ponto de vista da neurociência, os pensamentos e demais funções da mente são apenas produto das interações entre os neurônios.
Para que você tenha uma idéia, são mais de 100 bilhões de neurônios em um único cérebro. Cada neurônio pode ter conexão com mais de 10.000 outros neurônios, por meio das sinapses. Dessa forma, o número de combinações possíveis de conexões no sistema nervoso central é considerado maior do que o número de partículas existentes no universo!
Há teorias que acham que tudo é cérebro e que a mente é um criação cultural fundamentada na experiência subjetiva. Searle é um dos que advoga que o problema mente-cérebro não existe, é um artefato.
Outros acreditam que a mente é mais complexa do que o cérebro, mas interligada a ele. Essas teorias são formas moderadas de dualismo, conhecidas como emergentismo e epifenomenalismo.
Enfim, a questão não é resolvida e se desdobra em muitas outras bastante técnicas, na filosofia da mente e do conhecimento.
Espero ter sido o mais claro possível, mas não há como evitar certos termos técnicos ao tratar este tema.
Um abraço e obrigado pela pergunta.
Questões sobre o cérebro, a mente ou a alma? Vamos conversar!
terça-feira, 9 de fevereiro de 2010
Doença, dor e sofrimento
De qualquer modo, a percepção imediata do sofrimento dos outros funciona como um balde de água fria sobre qualquer sonho de mundo feliz que um adolescente, como eu era ao percorrer pela primeira vez os corredores da sala de anatomia, possa alimentar. Apesar disso, entre optar por uma atitude fria e cínica diante da dor ou procurar desenvolver algum nível de contato com o sujeito que sofre; acabei escolhendo o segundo caminho.