sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Quando o Analgésico é a Causa da Enxaqueca

A enxaqueca é uma doença bastante comum, assim como a possibilidade de acesso a medicamentos utilizados para o tratamento das crises. As medicações de prateleiras (over the counter - OTC) são aquelas para as quais não é necessária a prescrição ou receita médica para sua compra. O que poucos sabem é que o uso exagerado de sintomáticos para a dor de cabeça pode ser capaz de transformar as crises esporádicas de enxaqueca em uma dor de cabeça constante e incapacitante, denominada cefaléia induzida por medicação.

O termo "enxaqueca transformada" é freqentemente utilizado para descrever a cefaléia crônica diária que se iniciou como crises mais ou menos frequentes e que foi agravada pelo uso excessivos de analgésicos como os anti-inflamatórios, ácido acetil-salicílico, paracetamol, os derivados de ergotamina, os triptanos e os compostos específicos para enxaqueca, encontrados até mesmo fora dos estabelecimentos farmacêuticos.
A cefaléia crônica induzida por medicações atinge mulheres com maior frequencia que os homens e a faixa etária mais acometida está entre os 30 e 40 anos. Caracteristicamente são pessoas que eram portadoras de um tipo de cefaléia primária - não relacionada a lesões cerebrais - como a cefaléia tensional ou a migrânea, e que, por falta de um acompanhamento médico, passaram a utilizar analgésicos em frequencia maior que 3 vezes por semana até várias vezes ao dia, por mais de dois anos. Outro fenômeno que se observa é o uso do analgésico logo no primeiro sinal de dor ou mesmo diante da expectativa.
As características da dor também se modificam. Enquanto as crises de enxaqueca duram habitualmente menos de 48 horas, acometem metade do crânio e têm uma dor pulsátil acompanhada de náuseas ou vômitos, a cefaléia crônica diária é constante, tipo peso ou pressão, bilateral, é pior pela manhã e pode ter momentos de dores mais fortes.
Para o tratamento efetivo da cefaléia induzida por medicação é necessário mudar a compreensão do paciente sobre o problema. Deve-se entender que suas dores devem receber uma abordagem de tratamento "preventivo" e não apenas os sintomáticos que vinha fazendo uso. Para tanto, há várias drogas disponíveis para o uso de neurologista que atuam de modo a reajustar os limiares de dor no cérebro e evitar as dores, diminuindo sua frequencia, duração e intensidade.
A dificuldade do tratamento da cefaléia induzida por medicação é que a retirada dos remédios usados pelo paciente pode ser acompanhada de exacerbação da dor. No entanto, é imprescindível que a suspensão dos analgésicos seja feita e a experiência do neurologista nessa fase pode ajudar na obtenção do sucesso desejado.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Delirium em idosos: o papel da família


Em idosos internados para tratamento hospitalar é relativamente comum o aparecimento de um estado de confusão mental, denominado delirium agudo. Estudos recentes apontam para o tratamento não-medicamentoso como forma adequada para o controle e mesmo para prevenção desse problema que pode ocasionar o prolongamento das internações. Nesses casos, o papel da família é preponderante para o sucesso do tratamento.
O delirium agudo pode ser de dois tipos: o hipoativo, no qual predomina o rebaixamento do nível de consciência que varia de sonolência excessiva até o estupor e coma; e o hiperativo, caracterizado por agitação psicomotora, acompanhado ou não de alucinações visuais, auditivas, agressividade e outros distúrbios de comportamento. Habitualmente observa-se a mistura desses 2 tipos de sintomas, com flutuações da consciência ao longo do tempo, alternando períodos de sonolência, com outros de agitação e alucinações.
Os idosos, mesmo não sendo portadores de alzheimer ou outro tipo de demência, são particularmente suscetíveis a essas alterações de origem cerebral. Estudos mostram que indivíduos acima de 75 anos submetidos a uma cirurgia ortopédica tem chance de até 15% de desenvolver delírio agudo no período pós-operatório.
A causa do distúrbio é entendida, atualmente, como sendo uma conjunção de vários fatores de risco. Dentre eles podemos citar: idade maior que 75 anos; infecções; uso de antibióticos e outras medicações, tais como corticóides, sedativos e analgésicos(especialmente os derivados de morfina); cirurgias de médio ou grande porte; anestesia; insuficiência renal ou hepática; alterações da concentração de sódio, cálcio, magnésio e de outras substâncias encontradas normalmente no sangue. O acompanhamento de um especialista pode ajudar a detectar o problema, controlar os fatores de risco e auxiliar na prevenção dos sintomas.
Enquanto as pesquisas com uso de medicações antes de procedimentos cirúrgicos não se revelaram eficazes para evitar o delírio, a utilização de medidas não-farmacológicas se provou útil e desejável. Portanto, queremos dar alguns conselhos para os familiares de idosos que serão submetidos a uma internação por qualquer motivo.
Em primeiro lugar, é preciso lembrar que a simples mudança de rotina e de instalação física pode gerar confusão mental e que os movimentos da enfermagem para medir pressão, pulso e temperatura, bem como aplicar medicações à noite, alteram o ciclo de sono-vigília e colaboram para a instalação do delirium. Assim, com o paciente internado, procure deixar o quarto bastante iluminado durante o dia, se possível sentando-o em uma poltrona e mantendo conversas sobre a família, a casa e também sobre os eventos mais recentes. À noite, manter o aposento à meia-luz, com o mínimo de barulho possível e, quando não houver problemas, evitar manipular o paciente da meia-noite às seis horas da manhã.
Raramente encontramos em uma acomodação hospitalar a presença de um calendário ou um relógio, talvez para diminuir a ansiedade de "não ver o tempo passar". Contudo, para uma boa orientação no tempo e no espaço, é importante ter a data visível - melhor que seja impressa diariamente no formato abaixo - e um relógio com o mostrador de tamanho suficiente para a leitura de quem está hospitalizado. Devemos compreender também que a duração da internação pode ser outro fator agravante, devido ao confinamento em ambiente fechado. Sempre que possível, passear com o paciente na cadeira de rodas pelos corredores do hospital ou outros locais apropriados para esse fim.


Nos momentos em que o paciente demonstra algum sinal de confusão mental, ou mesmo alucinação visual, é preciso confortá-lo, lembrando que está no hospital x, fazendo tratamento para y e que sua família o está amparando. Tranquilamente, é preciso também corrigir os distúrbios perceptivos, informando que o que ele viu não estava ali. Trazer objetos familiares ao paciente, para deixar no quarto também pode ser interessante no sentido de mantê-lo calmo.

Utilizando essas medidas, algumas vezes trabalhosas, é possível prevenir o delirium ou diminuir a necessidade de intervenção com medicamentos. Consequentemente, o tempo de internação hospitalar diminui e a recuperação em casa é mais rápida.