quarta-feira, 18 de março de 2009

Estimulação cerebral profunda na doença de Parkinson

Em pacientes com doença de parkinson cujo tratamento não alcança os resultados desejados ou existem efeitos colaterais graves relacionados à medicação, tais como as discinesias flutuantes, yo-yoing e outros, pode ser indicado um tratamento cirúrgico para a doença.
As primeiras cirurgias para a Doença de Parkinson se baseavam na realização de uma lesão por radiofrequência em alvos determinados na região dos gânglios da base. O inconveniente desse tipo de procedimento é que se a lesão é maior do que a planejada, a cirurgia pode resultar em perda de força de um lado do corpo, semelhante à causada por um acidente vascular cerebral. Alguns procedimentos foram proscritos, como certas lesões cirúrgicas bilaterais porque causavam a perda da linguagem e uma paralisia geral (mutismo acinético).
Atualmente, temos uma nova opção para casos selecionados que consiste na introdução de um dispositivo intracerebral para a estimulação elétrica dos alvos escolhidos. Essa técnica é denominada "deep brain stimulation (DBS)", ou em português, "estimulação cerebral profunda". As vantagens dessa estratégia incluem um menor dano cerebral (não se causa lesão por radiofrequência) e os geradores dos pulsos elétricos que ficam implantados sob a pele podem ser controlados remotamente para um melhor ajuste da "dose" de descargas necessária para controle dos sintomas. Permanece a dificuldade técnica, sendo necessário um bom preparo e indicação do procedimento pelo neurologista responsável pelo paciente e a intervenção de um neurocirurgião experiente para o implante dos eletrodos. Outro problema é o custo desses sistemas eletrônicos ainda bastane dispendiosos.
De qualquer modo, essa é mais uma abertura no horizonte do tratamento para os pacientes parkinsonianos que cada vez mais convivem harmonicamente com a doença, graças aos novos tratamentos disponíveis.
Para visualizar o esquema de colocação da DBS, assista ao vídeo relacionado ou clique no link abaixo.
http://www.youtube.com/watch?v=B6sqV7bEPo0&feature=related


terça-feira, 17 de março de 2009

Doença de Parkinson e suas manifestações não-motoras

A Doença de Parkinson é uma doença crônica e degenerativa do sistema nervoso central. Os principais sintomas são a rigidez, a lentidão de movimentos, o tremor de repouso e a instabilidade postural com tendência a quedas. Embora esses sintomas sejam a base para o diagnóstico do problema, existem também problemas não-motores que não recebem a mesma atenção por parte de médicos, cuidadores e familiares mas que causam desconforto aos portadores da moléstia.
Os pacientes parkinsonianos podem desenvolver alterações psiquiátricas como a psicose, a depressão e a ansiedade; alguns têm distúrbios autonômicos como queda de pressão arterial, obstipação intestinal e problemas urinários; muitos referem também queixas sensitivas como dores, inquietação(acatisia) e a síndrome das pernas inquietas. Nos pacientes com muitos anos de doença pode surgir ainda uma degeneração da esfera intelectual, constituindo um quadro de demência que se enquadra no conjunto de doenças da proteína tau.
Com o avanço da patologia, podem ser necessárias as idas aos pronto-socorros devido a quedas, infecções respiratórias, desmaios e outras situações de emergência. A compreensão da amplitude dos fenômenos relacionados ao Parkinson é importante especialmente para os cuidadores e familiares que normalmente tendem a focalizar apenas os distúrbios de movimento. Muitas vezes os sintomas de outras ordens não são valorizados ou não são se imagina que possam estar relacionados à patologia de base.
Outro fenômeno relevante é o que diz respeito ao uso excessivo de medicação. Devido à incapacidade causada pelos distúrbios de movimento, alguns pacientes abusam dos medicamentos e sofrem com as consequencias da sobredose. Dentre as medicações utilizadas para o tratamento do Parkinson, a mais eficaz para o controle dos sintomas motores é a levodopa, disponível em associação com a carbidopa ou com a benzerasida. É justamente essa substância a que mais comumente é utilizada em excesso. Ao perceber a melhora de suas capacidades para desempenhar as funções cotidianas, alguns pacientes passam a utilizar a levodopa em altas doses e então sobrevêm os efeitos colaterais físicos e psiquiátricos.
O uso prolongado e excessivo da levodopa pode induzir alterações neurológicas motoras como a discinesia. O paciente passa ter períodos em que surgem movimentos involuntários, como a coréia e a coreoatetose. O problema pode ser ainda um pouco maior porque as doses mais altas de levodopa produzem um certo estado de euforia e bem estar. Assim, não é infrequente encontrarmos pessoas com efeitos colaterais sérios e que informam estar se sentindo bem, dizendo até que se sentem desconfortáveis nas doses normais de medicação, apesar de conseguirem bom controle dos sintomas do ponto de vista médico.
Uma situação mais extremada ocorre na esfera neuropsiquiátrica e se denomina "Síndrome de Desregulação Homeostática Hedonística", também conhecida como Síndrome de Desregulação Dopaminérgica ou, simplesmente, como "os abusadores de levodopa". Algumas pessoas tornam-se dependentes de doses muito altas de levodopa (no Brasil as formas comerciais mais vendidas são o Prolopa e o Sinemet). Característicamente, costumam estocar a medicação e distribuir as cartelas pela casa, no carro, no escritório e em todos os lugares que o paciente costuma ir. Esse deve ser o primeiro sinal de alerta para a família. Outro fato que chama a atenção é que o paciente usa doses elevadas e fala para o médico que continua tomando as doses conforme foram prescritas. Além disso, tem os movimentos involuntários (discinesias) e dizem se sentir bem nesses momentos. Completando o quadro, desenvolvem sintomas de abstinência mediante a redução da dosagem ou suspensão da medicação.
Junto com a síndrome podem surgir manifestações neuropsiquiátricas intensas, incluindo estados alucinatórios, psicose ou distúrbios compulsivos. Esses pacientes podem começar com comportamentos exagerados e repetitivos, envolvendo uma hipersexualidade, compulsão para jogos - especialmente com apostas - e comportamento de consumo exacerbado na forma de compras ou de alimentos. Tais comportamentos são direcionados para a busca de recompensa emocional e não conseguem ser suprimidos pelo paciente. Há estudos que apontam para uma prevalência de até 13,7% desses sintomas ao longo da vida dos parkinsonianos.
Um comportamento curioso e relacionado a esses distúrbios impulsivos chama-se "punding" e não tem correspondência na lingua portuguesa. As pessoas acometidas por essa alteração demonstram comportamentos complexos repetitivos, excessivos e sem um propósito. Um exemplo típico é o de pacientes que ficam "arrumando" suas gavetas ou estantes de modo compulsivo. Costumam retirar os objetos e depois ter dificuldade em reorganizar tudo; todavia voltam com a mesma ação logo a seguir.
À parte de sintomas bizarros como os referidos, outros menos chocantes também aparecem e merecem o tempo do neurologista. Eles incluem os distúrbios de sono específicos, a depressão, a ansiedade, a perda de memória, as náuseas e as tonturas.
Cada vez mais reconhecemos que a magnitude da Doença de Parkinson ultrapassa, na maioria dos pacientes, as dimensões puramente motoras dessa patologia. O tratamento ótimo das pessoas portadoras deve ser voltado para o atendimento integral da saúde.