quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Dance, Magic, Dance: o labirinto da mente

O filme "Labirinto - a Magia do Tempo" marcou uma geração, levando-a a viajar com a heroína interpretada pela então adolescente Jennifer Connely através do labirinto mágico de Jareth - um feiticeiro poderoso interpretado por David Bowie. Na película lançada em 1986 e dirigida por Jim Henson o objetivo da protagonista era resgatar seu pequeno irmão aprisionado em um mundo habitado por criaturas monstruosas, mas ao mesmo tempo inocentes e cômicas em suas maldades. A trilha sonora ainda hoje é tocada nas rádios e provoca boas lembranças. Como toda fábula, sua interpretação pode ser feita em vários níveis e aqui vamos explorar um dos mais inusitados - o ontológico-espiritual.
Se você ainda não assistiu o filme, pare de ler esse artigo e se dirija à mais próxima locadora. Permita-se encantar pelo conto de fadas até que os efeitos especiais(hoje primários se comparados a "Matrix" ou "Avatar") se tornem reais para você. Antes de interpretações esotéricas, o melhor é se render àquela visão ingênua que a mente desarmada pode ter do mundo.
Feito isso, podemos retornar aos pontos alternativos de compreensão. Sim, pois a visão ingênua é a básica e fundamental, o resto são constructos que miram em última instância à recuperação da visão primeira e pura.
A estrutura do roteiro é de uma narrativa mítica tipicamente heróica. Abduzida da realidade racional, a heroína Sarah Williams(Connely) enfrenta a saga dos mitos gregos. Primeiro ela comete um erro, reafirmando sua humanidade falível, e é punida pelo sobrenatural. A seguir recebe o chamado e se lança em uma aventura rumo ao desconhecido, onde passará por dificuldades e enfrentará os perigos até se encontrar com seu grande rival. Quando, finalmente, derrota seu nêmesis alcança a redenção e sai da experiência triunfante, renovada e possuidora de um novo patamar de identidade.
Esse aspecto mítico, recontado em várias epopéias dos tempos antigos, é bem descrito e analisado por Joseph Campbell em "O Herói de Mil Faces". Fica a sugestão da leitura.
É claro que o filme, eminentemente simbólico, se presta também a análises psicológicas tanto de viés freudiano, como junguiano. Dá para se divertir com a estória explorando também essas possibilidades.
Todavia a que ofereço, nesse ponto, é uma perspectiva de caráter espiritual, com tendências interpretativas claramente orientais, indianas ou chinesas. Na busca de si mesmo, o adepto do caminho espiritual inicia uma jornada em direção à sua própria essência. Assim espera alcançar a reunião com a realidade cósmica, também entendida como O Sagrado. Por métodos e tecnologias ióguicas, contemplativas, meditativas e devocionais, de acordo com a escola seguida, o neófito persegue a reunião mística com sua origem primordial e comum ao universo.
No filme "Labirinto" podemos enxergar essa busca por si mesma na personagem principal. A dificuldade desse processo é simbolizada pelo enigma expresso no título do longa-metragem. O que faz, no entanto, transparecer o fato de que o terrível mago ou feiticeiro era a própria heroína projetada em seu oposto é que quando ela o derrota, ele afirma que foi ela quem pediu e chamou por ele. Além disso, a derrota do mal é conseguida pela súbita compreensão de que a garota era a criadora dele.
O vilão só tinha poderes porque a mocinha do filme os concedia a ele.
Fica clara, então, a analogia com a iniciação espiritual. Saímos em busca de uma essência, simbolizada por nossa identidade mais profunda e, quando a encontramos, descobrimos que a mesma não tem existência própria ou intrínseca. O feiticeiro pop-star é o Ego, o eu que imaginamos ser o senhor central de nosso realidade.
Mas tal qual o dono do labirinto na estória, o Ego é como um castelo, cercado por um labirinto, com guardas e ministros; tudo bem montado para proteger e preservar um rei que, na verdade, não existe. O Ego é uma ilusão sem consistência, sem um lugar para si que não o da fantasia, sem realidade inerente que lhe dê fundamento.
A ignorância nos mantém a crença de que no si-mesmo há algo palpável. Mas a essência espiritual, se podemos assim chama-la é vazia. Essa vacuidade não significa extinção. Quer dizer, no entanto, que nossos apegos e desejos não mereceriam tanto sofrimento de nossa parte caso compreendêssemos que não adianta dar presentes se não há quem os receba.
No Tao Te King, Lao Tsé afirma e depois pergunta: Quem sofre é o Eu. Se não há um Eu para sofrer, quem sofrerá?
Livres de expectativas, abertos à visão ingênua do mundo. Voltemos a ser crianças como um velho sábio chinês.



terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Aumentando a saúde, evitamos as doenças

Não sei se é verdade ou mito, mas dizem que os chineses antigos pagavam periodicamente seus médicos para que mantivessem sua saúde. E paravam de pagar se ficavam doentes. A função do médico era evitar que seus clientes ficassem doentes. A medicina preventiva era muito mais valorizada que a curativa, exatamento o contrário do que acontece hoje. Mas se, por um lado, a tecnologia empurrou a medicina para uma atitude reativa diante da doença; de outro, aumentou também a possibilidade de mantermos mais saúde seguindo informações acessíveis a todos.

A idéia dos povos do Extremo Oriente era de que um desequilíbrio energético sempre precedia a manifestação de uma patologia física. Tal alteração era passível de detecção ou tratamento por um bom curador, antes da doença se consolidar. No caso da medicina chinesa, bastava ao médico palpar os pulsos e ver a língua do paciente para reconhecer qual dos 12 meridianos pares ou dos 2 ímpares apresentava um bloqueio energético e, assim, o tratamento era realizado. Por meio da fitoterapia, da acupuntura, da moxa e dieta os terapeutas ajudavam o paciente a restabelecer seu Chi e, com isso, voltar a ter harmonia interna e externa.
É certo que atualmente não temos essa capacidade quase sobrenatural de detectar as alterações das energias sutis. Na verdade, os ocidentais nem acreditam muito nesse tipo de conceito. Todavia, ninguém fica espantado se dissermos que antes de aparecer uma úlcera gástrica, deve ter acontecido um desequilíbrio na função da produção de ácidos no estômago e que teria sido possível tratar a úlcera mesmo antes dela se manifestar, caso soubéssemos da hiperacidez.
O problema que queremos destacar é que apesar de sabermos das nossas doenças antes delas aparecerem, optamos por ficar alienados, ignorando os sinais que nosso organismo fornece.
Podemos compreender um pouco mais sobre a saúde se entendermos como nosso corpo mantém o equilíbrio, assimilando variações do meio interno ou externo enquanto permanece dentro de uma faixa de normalidade.
Uma das características fundamentais desse organismo altamente complexo e evoluído que temos é a homeostasia - a capacidade que o corpo tem de se recuperar de estados de desequilíbrio e voltar ao seu estado normal, atuando dentro de uma faixa de segurança.
Um exemplo de mecanismo homeostático é o controle da temperatura. Nosso sistema corpóreo consegue se manter facilmente por volta de 36 a 37 graus Celsius, mesmo que estejamos em ambientes que variem de 10 a 45 graus. Se está calor, suamos para resfriar; se está frio, trememos para aquecer.
A doença é a decorrência daquela situação extrema que ultrapassa os limites da capacidade de auto-regulação do corpo físico. Uma vez rompida essa barreira da saúde, o estado doentio se instala de modo progressivo até a deterioração completa do organismo ou morte. Eventualmente, novos estados de equilíbrio precário são alcançados, mas isso não impede o avanço de doenças como o diabetes ou a hipertensão arterial.
Se tivermos a capacidade de nos manter atentos aos nossos estados mais sutis, seja em nível mental, emocional ou físico, poderemos antecipar as situações que podem colocar em risco nossa saúde. Além disso, todos temos à disposição uma grande quantidade de informações que podem nos ajudar a encontrar mais saúde e alcançar maior longevidade.
Podemos adotar uma alimentação mais saudável para nós e para o planeta diminuindo o consumo de carnes e preferindo os pescados. Também melhoramos nossa saúde evitando os carboidratos simples como o açucar e as gorduras que aumentam o colesterol. A atividade física regular, a abstenção de fumo e dos excessos de álcool também favorecem maior saúde.
Pense como você quer estar, fisicamente, daqui a 5 ou 10 anos. Analise o quanto sua vida pode ser preciosa para seus filhos, amigos e companheiro(a) e como eles querem vê-lo(a) também no futuro. A alternativa para viver "dez anos a mil" não é viver "mil anos a dez". Com sabedoria é possível encontrar equilíbrio para viver uma vida significativa e longa ao mesmo tempo.