sábado, 28 de fevereiro de 2009

Tempo é cérebro

Tudo começou com o infarto do miocárdio. Descobriu-se que as artérias coronárias entupidas com coágulos desprendidos por placas de colesterol poderiam ser desobstruídas com uma medicação e que a área infartada podia ser parcialmente ou totalmente recuperada.Assim se iniciou uma nova era no tratamento das doenças cardiovasculares. Com o passar do tempo, as pesquisas mostraram que a desobstrução mecânica por meio de angioplastia seria mais eficaz e o procedimento se tornou padrão mundial.

Enquanto o músculo cardíaco infartado permanece viável por até seis horas depois de instalado bloqueio do fluxo sanguíneo, no caso do cérebro não ocorre o mesmo. Devido ao metabolismo cerebral, o entupimento das artérias leva a uma degeneração muito mais rápida do sistema nervoso, o que impediria a eficácia dos tratamentos de desobstrução do fluxo nos acidentes vasculares cerebrais.
Todavia, com os avanços da pesquisa internacional, foi possível verificar que selecionando adequadamente os pacientes e realizando o tratamento de trombólise (a palavra significa "dissolver o coágulo") em menos de 3 horas, seria possível diminuir a gravidade do AVCI - acidente vascular cerebral isquêmico - e melhorar a qualidade de vida dos pacientes. A partir daí surgiu a noção de que "time is brain" ou em português: tempo é cérebro.
Para a execução do tratamento que visa desentupir a artéria cerebral obstruída por um coágulo, é preciso que o paciente chegue ao hospital o mais rápido possível, que o serviço médico esteja estruturada e capacitado para oferecer o tratamento e os profissionais treinados estejam disponíveis no local.
A medicação aprovada para a dissolução dos coágulos que causam o AVCI é denominada rTPA (ativador recombinante do plasminogênio tecidual) e pode ser administrada em até 3 horas por via endovenosa ou até 6 horas através de uma angiografia cerebral com um catéter que chega até a artéria acometida.
Quanto mais cedo o paciente chega no hospital e se inicia o protocolo de tratamento, maiores as chances de sucesso. Por isso, é importante que aqueles cujos familiares sejam idosos ou sejam portadores de problemas de colesterol, triglicérides, diabetes, hipertensão arterial, tabagismo ou etilismo estejam atentos para os primeiros sintomas da doença e procurem o socorro imediato.
Os sintomas mais frequentes são: perda de força ou de coordenação ou de sensibilidade em um lado do corpo (direito ou esquerdo); perda súbita da capacidade de falar ou de entender a linguagem; perda súbita da visão de um ou dois olhos; paralisia de metade do rosto; dor de cabeça súbita e intensa com ou sem qualquer um dos outros sintomas mencionados.
É preciso procurar o hospital mais próximo que tenha os protocolos de tratamento agudo do AVC e a estrutura para o atendimento do paciente. Em São Paulo, hospitais do serviço público de saúde como o Hospital das Clínicas da USP, o Hospital São Paulo da UNIFESP e o Hospital Santa Marcelina realizam o tratamento agudo do AVCI e têm grande experiência nesse tratamento de ponta. Entre os hospitais particulares, o Hospital Israelita Albert Einstein tem certificação internacional como "Stroke Center" e outros grandes hospitais como a Beneficência Portuguesa já se encontram aparelhados para a execução dos protocolos.
O acidente vascular cerebral é a maior causa de morte no Brasil e a terceira maior no mundo. O ideal é combater a doença controlando os fatores de risco modificáveis, como a pressão alta, a obesidade, o tabagismo etc, mas estar atento para o tratamento da fase aguda pode ser a diferença entre uma boa recuperação ou a manutenção de sequelas que comprometem a qualidade de vida dos pacientes e seus familiares.
Portanto, fiquem atentos e vida longa a todos!

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